sábado, 25 de outubro de 2014

O Poder Simbólico do Voto Nulo

Escrevo este texto para manifestar aqui pela primeira vez, e com atraso, o meu voto para esse domingo - coisa que, até então, só havia feito em espaços restritos, quando provocado. Tenho plena consciência de que isso não é do interesse geral, mas irei adiante, pois, apesar de tudo, este é um espaço que me foi amigavelmente concedido para o exercício do meu direito à liberdade de expressão. 
Vamos lá: já vi muitos colegas e conhecidos declararem publicamente voto no Aécio Neves ou na Dilma Rousseff e darem suas razões. Defender o voto nulo é menos comum e é dessa tarefa que me encarreguei, pois este é precisamente o posicionamento que decidi tomar nessas eleições.

Primeiramente, descarto o voto em Aécio. Não porquê eu pense que ele vá ser um governante tão catastrófico quanto a oposição mais radical prega. Pelo contrário, acredito que ele, por estar disposto a tomar 'medidas impopulares', tenha o perfil no qual uma significativa parcela dos investidores confia e, por esta razão, talvez o seu governo seja até positivo para a economia (embora este seja apenas um palpite, pois economia é uma seara que pouco entendo). No entanto, para isso, o candidato tucano terá de dar as mãos aos setores com os quais eu quero brigar. Digo isto porquê, se é verdade que na política não existe neutralidade e que inevitavelmente se tem que escolher um lado, escolhi defender os interesses das classes menos favorecidas. Eu quero exatamente isto: alguém que se levante, encare e enfrente os interesses das elites, ainda que isto signifique por em risco a economia nacional - e confesso a minha inconsequência sem hesitação. Aécio Neves está longe de ser essa pessoa, por este motivo, jamais terá meu voto.

Quanto à presidente Dilma, além das questões de ordem prática, encontro uma razão ainda maior para desejar que a vitória seja dela. Acontece que, mesmo que o PT não represente a classe trabalhadora como deveria  e poderia , a classe trabalhadora se sente representada por ele, da mesma forma que as classe média e alta se sentem representadas pelo PSDB. A derrota do partido tucano tem, então, uma grande importância simbólica, na medida em que reafirma a soberania do povo  algo que nem mesmo a opulência e poderio econômico das elites é capaz de sufocar  e, ao mesmo tempo, transmite aos aspirantes dos cargos públicos a mensagem de que não se governa sem respeitar os interesses dele [do povo] - é o que os mais reacionários carinhosamente apelidam de ditadura comunista brasileira.

Todavia, o PT também cometeu alguns erros gravíssimos que ainda não estou pronto para perdoar, como por exemplo, unir-ser a alguns dos setores mais torpes da política brasileira e abandonar bandeiras que vinham defendendo ao longa de toda a sua história, em nome da manutenção do poder. Sendo assim, decidi que só daria meu voto ao partido se enxergasse um risco real deles perderem as eleições, coisa que, a grosso modo, as últimas pesquisas a que tive acesso não têm revelado (a diferença oscila entre 6% e 8%).

Por estes motivos, endossarei o posicionamento de alguns partidos minoritários de esquerda e de outras correntes que acompanho, como o movimento zeitgeist, e farei parte da parcela dos eleitores que sacrificarão o voto em protesto, gesto que, embora não produza nenhum desdobramento prático  e já me adianto àqueles que pensarem em reprovar o meu posicionamento sob essa justificativa , possui, tal como a vitória do PT, um poder simbólico: mostra que há uma fração do povo que está insatisfeita com o nosso sistema político em sua generalidade; que não se contenta com pouco e anseia por reformas estruturais que o simples voto, a rigor, não trará; e que se recusará a votar em qualquer candidato que não assuma com segurança o compromisso de levar esta luta adiante. Essas são as duas mensagens que eu desejo esperançosamente que o resultado das urnas, com a vitória do PT e o número expressivo de votos brancos/nulos e abstenções, levem aos atuais e futuros representantes do povo brasileiro. 

Por Tállison Sousa

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