domingo, 5 de outubro de 2014

NOVAS ELEIÇÕES, ANTIGAS DECISÕES



Hoje, de acordo com o costume hodierno do biênio eletivo, exercemos o nosso direito/dever de cidadão e elegemos, tal qual preleciona a Carta Magna, nossos representantes no Legislativo e no Executivo nas esferas estaduais e federal. Não resta dúvida que esse é um poder inalienável para o exercício da cidadania e o exercente dessa atividade, no gozo pleno das suas faculdades, escolhe o que melhor entende para fazer parte do corpo dos representantes do povo. Sim, somos autônomos para escolher os que melhor se encaixam como modelo de qualificação da política e os que mais fidedignamente atendem os interesses do conjunto dos representados. Pois bem, essa deveria ser a persecução diuturna do cidadão para que se promova o bem-estar social almejado. 

São constantes os motins de reclamação,- facilmente constatados quando andamos nos supermercados, escolas, faculdades, lanchonetes etc. - onde cada um, na iminência das eleições, se torna um judicante da vida social e dos problemas por ela acarretados, período de grande externamento de indignação, sendo apresentadas, mediante essas querelas reivindicatórias, as mais variadas alternativas e soluções. Eu, um transeunte observador, um passante atento, vejo os estridentes alaridos dessa "população consciente" e afirmo pra mim mesmo: que alegria, nosso povo está se revestindo das responsabilidades inerentes ao exercício e aplicação da democracia. Como um dogma de fé por dias melhores pode interferir na visão real acarretando ilusões? Sim, a necessidade da esperança nos fazem turvar a vista para o que é óbvio: não existe mudança, não existe impulso para emergir da mesmice.

Noveis pleitos e a preponderância das antiquadas oligarquias; currais eleitorais. Nossa redemocratização enfrenta o flagelo do clientelismo que assola à Federação nos quatro extremos do País, onde é notório o revesamento das cadeiras do Legislativo e Executivos por membros de uma mesma família ou de um mesmo grupo político espúrio, cuja raiz nas entranhas do poder remonta à eras priscas, cooptando para si, como se seu fosse, os cargos emanados do poder delegado pela sociedade para garantir o sanamento das necessidades de todos, em benefício próprio e de toda a sua família ou grupo. Na minha interpretação, há um modelo factível que pode possibilitar mudanças significativas na estrutura e na conjuntura institucional, porém, o cimento utilizado para essa alternativa possível se encontra revestido dos velhos encadeamentos fisiológicos do poder da plutocracia. Então, somos tão imberbes ao ponto de não nos darmos conta que o atual regime político, tal como era antes, só serve a si mesmo?

Não, eu acredito piamente que o nosso povo não perdeu a capacidade de escolher bem, infelizmente, o que não existe é a condição para que a nossa sociedade interprete o que se põe, amalgamado com uma descrença significativa da sua força - fruto, também, da dissonância das vozes protestantes - e a convicção - equivocada - na impossibilidade de ser extirpado o malsã conjuntural da corrupção quase atávica das instituições políticas brasileiras. Utilizando os ensinamentos do Prof° Roberto Mangabeira Unger, seguimos uma lógica progressista do mal menor, nesse sentido, a população vota certo, sempre preferindo o mal menor frente os candidatos que são integrantes do complô dos manutencionistas do poder. Assim, seguimos protelando mutações reais, nos acomodando com meras pinceladas sobre às máculas sociais, trazendo uma aparência de início de engajamento nos trilhos da civilidade, mas que na primeira intempérie se mostra a fragilidade das pinceladas, escorrendo por entre os dedos o reformismo, vindo à tona a verdadeira face da ineficiência e as falhas políticas do qual são vítimas todo o povo brasileiro. Novas chances de escolhas viram, novas filas para as escolhas se formaram, mas as antigas decisões se manterão, esse é o legado malfeitor que ronda nossa realidade como um espectro que arrefece as chamas do íntimo do nosso ser.         

Jessé Rebouças        
        

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